Difícil é escolher o nome mais adequado para o carnaval deste
ano, especificamente no Nordeste: Folia da insensatez, da omissão, da vergonha...
Bem aos nossos olhos, ao derredor, a pouca distância, sob um
sol escaldante, insuportável, com temperatura em média de 40 graus, ali no
terreiro do eterno desprezado homem do campo, a tragédia. Sem água, sem
alimento para si e para o parco rebanho pelo qual lutou a vida inteira para
constituí-lo, muitos choram e rogam aos deuses misericórdia. Deuses que parecem
se alinharam ao bloco dos insensíveis (políticos, artistas, brincantes etc.)
que prioriza o carnaval. A folia ganhou, é mais importante do que vidas e
sabemos de pessoas humildes e honestas. Horrorizam-se os brincantes,
nordestinos ou não, dizem-se comovidos, oram até pelas jovens vítimas de Santa Maria
onde centenas de jovens foram queimados vivos, consequência da crônica indiferença
do poder público e dos que não exercem a sua cidadania e não exigem, com
firmeza, das autoridades constituídas, o desvelo cabido. Mas os mesmos
compadecidos esquecem de que também, nestes dias de carnaval, são dizimadas milhares
de pessoas - famílias inteiras destruídas pela seca implacável no Nordeste,
justamente pela apatia e alienação de muitos enquanto promovem desfiles pelas
ruas alheios a tudo e a todos. Não bastasse, o inconsequente poder público,
desavergonhadamente, ainda patrocina e com dinheiro público que ao campo é
negado.
O entrudo continua; os problemas dos outros não lhes
interessa. Nenhum gesto de solidariedade. Nem uma frase de protesto ou
condolência aos vitimados pela seca é estampada nas camisetas ou abadas, caros
abadas. Suntuosos e estridentes trios elétricos desfilam pelas ruas a animar
foliões que aplaudem ídolos, mesmo que esses sequer renovem suas músicas de
embalo e continuem a gritar as mesmas tolices que empolgam os “pipocas” da vida
(pior que se orgulham do título e assim consequentemente são tratados) e
enquanto acrescem os saldos das suas já polpudas contas com altíssimos e, para
alguns, injustificados cachês (públicos
até). Deles, os famosos, nem um protesto emana. Para quê? Mais grave é que se
dizem nordestinos e fazem de “tudo” pelo seu povo que “amam”; até cantam...,
sorridentes, alegres, apáticos como nunca. Uma palavra só talvez bastasse,
tivesse consequências, mas os decibéis dos trios aliados à insensibilidade generalizada
abafam!
José HILDEBERTO Jamacaru de AQUINO
(Encontrem o texto também nos
endereços: www.tvrussas.com.br e www.tvjaguar.com.br, no
jornal a Folha do Vale e http://betelfmrussas.com/.)
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